CUIABA A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
Ir
de Cuiabá, o centro geodésico da América do Sul, a Santa Cruz de La Sierra, na
Bolívia, não é tarefa das mais simples ou agradáveis. Apesar de muito falada,
discutida e propagandeada, a rota terrestre legal que teoricamente liga as duas
capitais entre si, pode ser tudo, menos uma rota turística, na verdade continua
sendo uma rota de fuga, tráfico ou contrabando, onde a precariedade, a
desinformação e o desinteresse predominam absolutos.
E
olhe que já fiz essa rota no mínimo uma dúzia de vezes ao longo dos últimos 30
anos! Proponho-me a descrever a única rota terrestre legalizada que une o Mato
Grosso a República da Bolívia, resumindo a melhor maneira de fazer essa
cansativa e às vezes arriscada jornada.
De
Cuiabá necessariamente você deve ir a Cáceres, pode ser por alguns dos ônibus
diários que fazem esse trecho ou com vans que fazem o mesmo percurso,
pessoalmente, prefiro o ônibus, considero mais seguro e tem horário fixo. As
vans costumam ter horário mais ou menos fixo, mas saem buscando os passageiros nos
locais combinados 2 horas antes da saída, isso significa que você tem que estar
de prontidão com duas horas de antecedência. A vantagem da van é que ela busca
e deixa no endereço combinado, fora isso, ela custa mais caro e demora mais que
os ônibus.
Chegando
em Cáceres , graças ao Mercosul, você não precisa mais ficar calculando o
horário para conseguir ir no Posto da Polícia Federal para obter o papel de
saída do Brasil, a não ser que você viaje com menores de idade, aí então, você
deve escolher o horário de van ou ônibus que chegue ainda em tempo de você ir
lá e conseguir seu documento, isso feito, você provavelmente vai ter que dormir
em Cáceres para poder pegar, já no dia seguinte, a van que levará até San
Matias, a primeira cidade boliviana depois da fronteira.
A
van mais garantida sai da Rodoviária
antiga de Cáceres as 4:30 hs da manhã, tem outras que saem e chegam mais tarde,
podendo dificultar ou mesmo impossibilitar sua ida rápida a Santa Cruz. Mas de
qualquer modo, ao chegar na Corixa, um lugarejo na chamada terra de ninguém,
entre a linha de fronteira dos dois países, você vai passar por uma ou mais
barreiras do Gefron( Grupamento Especial de Policiamento da Fronteira) e pelas
instalações do exército brasileiro e da receita Federal, que surgem como
miragens na pantaneira paisagem local.
Chegando
na Corixa, a van que ia até San Matias, nos deixa por lá mesmo, na mão de
taxistas bolivianos que estão sempre discutindo com os policiais
brasileiros, apesar da precariedade dos
veículos, os taxistas costumam ser solícitos e cobram barato por uma corrida de
8 km na esburacada estradinha de terra.
Passada
a singela barreira do exército boliviano, logo você chega em San Matias e terá
que reajustar seu relógio em uma hora a menos e decidir se vai ao
terminal de buses comprar ou esperar abrir os guichês das duas empresas
bolivianas que fazem o percurso até Santa Cruz ou se você já fica no caminho em
frente ao posto da Migracion Boliviana que abre às 7:30 hs e fará sua papeleta
de entrada, sem a qual você terá muitos problemas durante a viagem. Resolver
esse pequeno dilema nem sempre é fácil. Se você for direto comprar as passagens
e depois ir a Migracion isso vai significar que terá que tomar táxi 3 vezes
antes de embarcar no ônibus e eventualmente enfrentará uma pequena fila na
Migracion; por outro lado, se você for direto na Migracion e ficar esperando
entre uma a duas horas até o posto abrir, você com certeza será um dos
primeiros da fila e depois de conseguir sua entrada na Bolívia, corra de táxi
para o terminal de buses e compre logo seu boleto, às vezes você chega lá e eles já acabaram e você terá que esperar até o outro dia para ir a
Santa Cruz... passar o dia e a noite em San Matias é um programa que não desejo
aos meus amigos nem aos inimigos.
Pois
é, cansou de ler a respeito, imagina que a dita viagem, jornada, travessia,
aventura, encrenca, nem sequer começou!
Agora,
com o boleto na mão, embarque no ônibus boliviano, que muitas vezes é até
bonito por fora, mas estragado por dentro, então, boa viagem. Você tem pela
frente 890 km de estradas muito ruins, motoristas ora simpáticos e ora
truculentos que não hesitarão em abandonar você, se por acaso se atrasar numa
das paradas em busca de algum banheiro, coisa muito rara de encontrar, e se o ônibus
não quebrar como comumente acontece, você vai ter medo da velocidade com que
eles andam em veículos e estradas tão precárias. Mas se tudo correr bem, você
até vai conseguir almoçar um arroz com feijão e bife suculento em San Vicente, depois mais uma parada em San
Ignácio e uma pequena parada em San Javier, onde o motorista, nesta nossa
viagem, queria deixar para trás duas turistas brasileiras que foram procurar um
banheiro.
Finalmente,
por volta da meia noite você chegará ao Terminal Bimodal em Santa Cruz, terá
que escolher um taxi e sair rápido em busca de um dos muitos hotéis e
alojamentos existentes nas proximidades, mas fique esperto que o lugar é meio
perigoso.
E
assim, depois de uma longa e cansativa viagem, você estará a cerca de 1200 km
de Cuiabá e ficará pensando se a volta será como a ida ou pior, ou se você, ao
invés de pegar um ônibus para San Matias, pega logo o trem que vai até Corumbá,
no Mato Grosso do Sul, e volta mais tranquilo e seguro.
Enfim,
não é tarefa simples ou agradável chegar em Santa Cruz de La Sierra saindo de
Cuiabá por via terrestre em transporte coletivo. Com carro próprio isso fica um
pouco mais fácil, só não esqueça de levar a documentação do veículo para fazer
o salvo-conduto em San Matias, alguns brasileiros entram sem ele e vão no
máximo até San Ignácio, a partir daí se você for parado, e você será parado, e
não tiver o salvo conduto, estará em apuros e mesmo pagando propina corre o
risco de ter seu carro apreendido, só vai depender de qual tipo de polícia
boliviana fizer a abordagem.
Em
relação à documentação pessoal exigida, essa é a parte mais simples, você
precisa de Carteira de Identidade (RG) atualizada, e o
certificado Internacional de Vacinação contra a Febre Amarela, que pode ser
solicitado com a Anvisa, você pode fazer o agendamento pela internet e depois
ir ao Posto da Anvisa dentro do Aeroporto em Várzea Grande, mas antes tem que
ir a algum Posto de Saúde e tomar a vacina com no mínimo 10 dias de
antecedência. Se você tiver passaporte, pode viajar com ele também. No caso de estar viajando com filhos ou menores, você precisa
das autorizações e dos documentos
pessoais deles. Uma dica é sempre levar fotocópias autenticadas dos documentos,
em caso de roubo ou perda dos originais, isso vai ajudar muito.
Lembre-se
que vai precisar trocar seu dinheiro brasileiro por dólares americanos e por
Pesos Bolivianos, os dólares você pode trocar em casas de câmbio ou mesmo no
Banco do Brasil. Nesta viagem o valor da compra do dólar estava mais vantajoso
no Banco do Brasil, por incrível que isso possa parecer, além do mais, durante
o final do ano, as casas de câmbio ficaram sem nenhum dólar, tudo foi vendido
para um turbilhão de cuiabanos que foram viajar ao exterior. O Peso Boliviano
ou simplesmente Boliviano pode ser trocado em San Matias ao valor de Bs 3,00
para cada real, em Santa Cruz conseguimos ao valor de Bs 3,14. Se quiser trocar
em Santa Cruz tem muitas casas de câmbio em redor da praça principal da cidade,
conseguimos trocar nossos reais pelo mesmo valor que estava em Cuiabá, R$ 2,20
para cada dólar.
Santa
Cruz é uma metrópole bem agitada, com trânsito intenso e vários atrativos
culturais e turísticos bem interessantes, mas a Bolívia esta crescendo muito e
já não é tão barata como dizem, principalmente em Santa Cruz. O custo de vida
aqui é muito alto e você vai gastar quase o mesmo que gastaria no Brasil, fique
o tempo necessário para conhecer o básico e siga em frente, quanto mais longe
da fronteira e da influência do Brasil, melhor. A Bolívia é uma nação
espetacular e com preços bem atrativos, portanto, pé na estrada.
Santa
Cruz de La Sierra 04/01/2013
Mario Friedlander