segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo - 27 de fevereiro de 2011

Iniciamos a segunda etapa de nossa viagem saindo de San Ignacio em direção a Concepcion e depois a Santa Cruz de La Sierra, num trajeto de 454 km em estradas de terra e asfalto.

Hélio Caldas no carro da Expedição

Logo após San Ignacio nos deparamos com uma sucessão de pequenas e adoráveis Comunidades Chiquitanas, algumas pareciam estar paradas no século 18 pela arquitetura rústica e tradicional e pela simplicidade do modo de vida.

Comunidade Chiquitana

Comunidade Chiquitana

Comunidade Chiquitana

Comunidade Chiquitana

Comunidade Chiquitana

Comunidade Chiquitana

Atravessamos 11 comunidades ao longo da estrada, mas existem pelo menos 30 delas e agora todas tem acesso a energia elétrica através de um programa governamental chamado "Luz Elétrica 24 horas", uma versão do "Luz para Todos" do Lula.

Chegar em Concepcion, a 164 km de San Ignácio foi um pequeno choque, pois o caos dos mercados fervilhantes de pessoas, carros, motos e na sequência entrar no centro histórico e se deparar com uma área enorme totalmente conservada e restaurada, com arquitetura colonial e Jesuítica e uma grande Igreja do Séc 17 em meio a um grito de carnaval com som muito alto na praça em frente a este Patrimônio da Humanidade acabou produzindo uma confusão mental e uma emoção difícil de descrever.

Concepcion

Concepcion

Concepcion

Concepcion

Concepcion

Concepcion

Concepcion

Ficamos chocados com a bagunça tipicamente brasileira e o cenário urbano totalmente inesperado, todo o  centro histórico  conservado e um visual arrebatador, pensamos em ficar por lá mesmo e descartar a ida a Santa Cruz, pois a promessa de encontrar este cenário e nossa surpresa foram de tal monta que ficamos um pouco confusos.

Procuramos um local com internet para postarmos nosso diário de bordo dos dois primeiros dias quando não conseguimos acessar a internet em parte alguma e perguntamos a um rapaz de uns 16 anos que trabalha com vendas na parte turística de Concepcion, sua resposta foi de que não havia internet aberta e que a mesma era sempre muito lenta e então ele disparou a queima roupa "Eles não querem se conectar", entendi na hora, realmente um povo sem condições de acessar e ser acessado pela internet perde oportunidades em todas as áreas, fica pra trás , não se articula nem conspira, fica com dificuldades de evoluir plenamente, quem sabe o Evo Morales e a Dilma se juntam e criem o Programa "Internet para todos". Todos sairão ganhando, tenho certeza.

Depois da frase do jovem boliviano, nossa ficha caiu e decidimos continuar o percurso até Santa Cruz, já era o meio da tarde e tínhamos ainda uns 290 km de estrada pela frente.

Seguimos por um asfalto esburacado, mas asfalto, em meio a morrarias com muitas pedras, florestas e pequenas fazendas. E chegamos a San Javier ou San Xavier, a primeira das Missões Jesuíticas, lugar agitado, empoeirado, cheio de bolivianos com botas montados em motos com espingardas a tiracolo, uma paisagem urbana perturbada e fascinante e de repente em frente a uma praça cheia de mato alto como em Cuiabá, um conjunto arquitetônico com a Igreja e vários prédios Jesuíticos simples e deslumbrantes.

San Javier

San Javier

San Javier

San Javier

San Javier

San Javier

Fotografamos o possível e prometendo a nós mesmos retornar e ficar uns dias, seguimos viagem e entramos nos campos de agricultura mecanizada que cercam Santa Cruz onde chegamos a noite num tumulto de trânsito incomparável.

Lembrando que Santa Cruz de La Sierra tem mais de dois milhões de habitantes, uma atividade comercial enorme, as maiores riquezas da Bolívia e acabou de completar 450 anos de existência, isso mesmo, 450 anos de vida.

Santa Cruz de La Sierra

Santa Cruz de La Sierra

Santa Cruz de La Sierra

Estamos nos alojando no Hotel Los Tajibos, o melhor de Santa Cruz e vamos em busca de comer algo na agitada noite Cruzena.

Hotel Los Tajibos

Amanhã nos falamos.

Texto e Fotos: Mario Friedlander

Novo Parceiro - Parador Santa Ana Chiquitos - Hostal & Restaurante


En el corazón de la Chiquitania, en la ciudad de San Ignacio de Velasco usted encuentra el Parador Santa Ana Chiquitos donde podrá descansar y deleitar las mejores comidas en un ambiente que lo cautivará por la excelencia de nuestra atención.

Visítenos... y lo encaminaremos a vivir la magia de Santa Ana de Velasco y la Chiquitania.


Ricardo Ortiz
parador.santaana@gmail.com 
http://www.paradorsantaana.blogspot.com

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Diário de Bordo - 26 de fevereiro de 2011

Finalmente estamos num lugar limpo, bem cuidado e seguro, falo do Parador Santa Ana-Chiquitos em San Ignacio de Loyola, a capital das Missões Jesuíticas na Bolívia. Ricardo Ortiz, o proprietário e um dinâmico empreendedor na área de projetos que fomentam o turismo na Gran Chiquitania juntou-se a nós, é nosso novo parceiro e nos hospeda com muita hospitalidade.

San Ignacio

San Ignacio

Estamos no final do segundo dia de viagem e só percorremos 625 kms, dos quais 310 km na Bolívia em estradas de terra, lama e buracos, muitos buracos. Chove bastante e grande parte da Bolívia enfrenta muitas inundações e outros problemas causados pelo exagerado volume de água das chuvas.

 Estrada San Matias a San Ignacio

 Estrada San Matias a San Ignacio

Conforme o previsto, entrar de carro na Bolívia é fácil, mas legalizar a entrada do mesmo é um pouco mais complicado, principalmente se você for além de San Ignacio de Loyola. Tentamos o Consulado da Bolívia em Cuiabá e não conseguimos nada, tentamos a Aduana em San Matias mas encontramos a cidade vazia e ressaqueada pela festa de seu 165º aniversário, ocorrido no dia anterior a nossa chegada, também não conseguimos nada, seguimos então até a próxima Aduana em San Vicente a 200 km de distância numa estrada inundada em meio ao Pantanal Boliviano, dormimos na Comunidade Ascencion de La Frontera a 80 km de San Vicente e na manhã seguinte tratamos de chegar logo a San Vicente onde mais uma vez não conseguimos nada, só a informação errada de que em San Ignacio a Aduana regularizaria a nossa situação.

 Comunidade Espiritu

Estrada San Matias a San Ignacio

Trancas do Exército

Depois de enfrentar mais 110 km de buracos e lama, atravessando lindas áreas de Floresta do Bosque Seco Chiquitano e diversas comunidades encantadoras, finalmente chegamos a San Ignacio e logo, com o apoio do Ricardo Ortiz, procuramos o Comando da Polícia de Trânsito, como sempre nada poderia ser feito, a não ser continuarmos ilegais mais 500 km  em direção a Santa Cruz de La Sierra e lá chegando procurar a Aduana local para regularizarmos nossa situação.

 Estrada San Matias a San Ignacio

Amanhã faremos isso, sairemos cedo em direção a Santa Cruz torcendo para não sermos barrados por algumas das inumeráveis barreiras da Polícia ou do Exército que estão por toda parte.

 Estrada San Matias a San Ignacio

Carro da Expedição

Curiosidades:
Desde San Matias enfrentamos péssimas estradas por cerca de 300 kms e em todo este trecho quase deserto tivemos a companhia de alguns caminhões levando as últimas unidades de um lote de 750 tratores brasileiros comprados pelo governo da Bolívia e que ficaram estocados no pátio da Aduana em San Matias. Lembrei muito de Mato Grosso e da compra das máquinas realizadas no final do último governo no ano passado, acho que a Bolívia bateu o recorde estabelecido pelo Blairo Maggi, pelo menos no número de máquinas compradas, agora na forma do pagamento e outros detalhes administrativos não sei e nem quero saber.

Estrada San Matias a San Ignacio

Na Aduana Nacional da Bolívia em San Matias só encontramos o senhor Tomás Rodrigues de 61 anos da Polícia Nacional que cuidava da guarita, ficamos por lá almoçando bananas com bolachinha salgada e esperando os fiscais da Aduana que acabaram não aparecendo, nesse meio tempo ele nos contou que seu bisavô e avô eram negros de Vila Bela da Santíssima Trindades que chegaram por lá por volta de 1910 mais ou menos e que vieram meio fugidos de uma revolta que tinha acontecido em Mato Grosso e por San Matias ficaram. Seo Tomás se aposenta ano que vem e sonha em visitar a Vila Bela para conhecer os parentes que  ele desconfia ter.

 Aduana San Matias

Texto e fotos: Mario Friedlander

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Matéria publicada no blog do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso - SINDJOR



PROJETO PARALELO 15

Expedição busca dar visibilidade à comunidade Afroboliviana



"Queremos ser mais visíveis que nunca, através de nosso Rei, para que o mundo inteiro saiba fora de nossas fronteiras que a Bolívia não é um país somente de indígenas." 

Uma paixão pela Bolívia, o conhecimento profundo da Comunidade Negra do Vale do Guaporé, em Mato Grosso, e uma inspiração que brotou das palavras da líder afroboliviana, Marta Inofuentes. Esses foram os ingredientes para o surgimento do Projeto Paralelo 15. Com o objetivo de mostrar um universo até então desconhecido para a maioria dos bolivianos e dos latino-americanos, o projeto inicia sua primeira etapa nesta sexta-feira, 25 de fevereiro.

"Queremos ser mais visíveis que nunca, através de nosso Rei, para que o mundo inteiro saiba fora de nossas fronteiras que a Bolívia não é um país somente de indígenas." O clamor de Marta Inofuentes serviu de estopim para que o fotógrafo Mário Friedlander, acreditasse na idéia que já vinha sendo plantada pelo seu amigo Luca Spinoza, jornalista Chileno, radicado na Bolívia. A partir daí, a idéia de apresentar ao mundo a comunidade Afroboliviana, fazendo um paralelo com a comunidade negra que vive no Vale do Guaporé, na divisa com a Bolívia, virou projeto e ganhou a adesão do guia de Ecoturismo e produtor cultural Hélio Caldas.
Nesta sexta-feira, Friedlander e Caldas, a bordo de um carro fechado com tração 4x4, iniciam a expedição rumo à região dos Yungas, localizada a aproximadamente 90 km a Leste de La Paz, capital boliviana. Em Santa Cruz de La Sierra, Luca Spinoza se junta aos expedicionários.



No primeiro trecho da expedição cultural, na região conhecida como Gran Chiquitania Boliviana, a equipe vai documentar algumas Missões Jesuíticas, transformadas em Patrimônio da Humanidade pela Unesco, também alguns aspectos da vida cotidiana de várias comunidades Chiquitanas localizadas ao longo do trajeto, e aspectos naturais do Bosque Seco Chiquitano, um rico ecossistema existente na Bolívia que começa a ser ameaçado principalmente pelas atividades agropecuárias e madeireiras dos Brasileiros que migram para esta região.

A expectativa é que a equipe enfrente alguns entraves burocráticos nas fronteiras, bem como problemas de infraestrura no transporte, pois a Bolívia enfrenta um período de chuvas muito intensas que bloqueiam inúmeras estradas principalmente na região a ser percorrida. Além disso, a Bolívia passa por um momento de agitação política, a exemplo da "Crise do Açúcar".

No entanto, apesar das dificuldades que possam vir a enfrentar, os membros do Projeto Paralelo 15 estão firmes no propósito de dar visibilidade aos Afrobolivianos que vivem na região dos Yungas, e representam cerca de 0,5 % da população daquele País. “Vila Bela da Santíssima Trindade (primeira capital mato-grossense, localizada no Vale do Guaporé) é uma pequena África dentro de Mato Grosso, está no Paralelo 15 e é fronteira com a Bolívia. Essas duas comunidades viveram isoladas por muito tempo e as origens são as mesmas. Então o que a gente pretende também é colocar as duas comunidades em contato”, explicou Friedlander.

Durante aproximadamente 30 dias a equipe vai documentar também os grupos culturais de Afrobolivianos no Carnaval de Oruro, a maior e mais importante manifestação cultural da Bolívia. O trajeto a ser percorrido nesta primeira é de aproximadamente 5 mil quilômetros. No percurso, a equipe vai enfrentar a célebre e perigosa “Estrada da Morte”, uma precária estrada de chão, com alto índice de acidentes, que dá acesso as comunidades negras da Bolívia.

A região dos Yungas está localizada nos vales subtropicais da Bolívia, numa região vizinha dos Andes. A estrada que dá acesso à região é considerada a mais sinuosa da Bolívia e por isso, a mais apreciada pelos turistas estrangeiros.

Esta primeira etapa, segundo Friedlander, servirá de base para o projeto, pois será o momento de estabelecer vínculo com a população e colher informações e registros fotográficos. O projeto prevê ainda mais três etapas, que resultarão em vários produtos finais, a exemplo de livros, exposições fotográficas e elaboração de relatórios. 

A República Boliviana – Impressões e sensações 
“A Bolívia é o Tibet da América e nós brasileiros a tratamos como os americanos tratam o México”, com essas comparações, o fotógrafo Mário Friedlander definiu a sua admiração pelo País vizinho e a sua decepção pela forma como ele é visto pela maioria da população brasileira.

O fotógrafo lamenta que muitos brasileiros ainda mantenham uma visão preconceituosa em relação à Bolívia. “A espiritualidade, o clima, a altitude da região, é um País maravilhoso, que mantém a sua origem indígena e é muito mais desenvolvido em alguns pontos do que nós brasileiros acreditamos. A população é extremamente politizada. Cada vez que volto à Bolívia eu reforço essa visão”, ressalta.

A paixão pela Bolívia teve início na década de 80, quando Mário Friedlander fez sua primeira viagem ao país vizinho. Das muitas experiências vividas e sensações experimentadas, Friedlander destaca as duas vezes em que percorreu a pé a rota que fará a bordo do veículo 4x4. Também conhecido como “El camino Del Taquesi”, é o caminho pré-colombiano mais preservado da Bolívia.

Além de toda grandiosidade e beleza da rota, que compreende aproximadamente 42 km, nas duas vezes o fotógrafo passou experiências marcantes. “Na primeira vez eu estava sozinho e me deparei com os vigilantes do narcotráfico. Na segunda-fez eu tive uma hipotermia porque estava sem roupas adequadas para a neve, só não morri porque meu colega, um europeu que possuía roupas apropriadas me socorreu”, contou.

Já em relação ao Vale do Guaporé, Mário fala com ainda mais propriedade. “Passei muitos anos em Vila Bela da Santíssima Trindade e desenvolvi um trabalho muito intenso nessa região”, finalizou. 

Parcerias 
“Não temos recursos, por isso precisamos de parceiros”. Essa é a realidade dos membros do Projeto Paralelo 15. Conscientes de que uma iniciativa dessa magnitude não se viabiliza sem parceiros que acreditem na sua importância e relevância social, a equipe tem conseguido apoios importantes tanto no Brasil quanto na Bolívia.

Essas parcerias podem ser conhecidas ao acessar o blog do projeto (www.projetoparaleloquinze.blogspot.com). Também através da página na Internet, é possível acompanhar todo desenvolvimento do projeto. A intenção dos expedicionários é alimentar as mídias digitais com notícias diárias a respeito dessa primeira viagem.
Para o Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT), noticiar a realidade que o projeto pretende mostrar, através de textos e fotos, é mostrar a complexidade cultural da América Latina. “Pelo respeito às minorias, para potencializar a voz de todos e todas, em favor da cultura de todos os povos, o Sindjor se compromete a ajudar na divulgação desse projeto, de grande valor jornalístico e social”, declarou a direção da entidade.


Marta Inofuentes, líder afroboliviana
Marcia Raquel, Assessoria de Imprensa (Sindjor-MT)


Contatos e informações adicionais:
Mário Friedlander - 9983-5728 e 3644-0367




 

Proposta do Projeto Paralelo 15













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