terça-feira, 22 de março de 2011

Diário de Bordo - 15 de março de 2011

Amanhece com chuva fina e uma densa neblina que nos impede de sair para as comunidades Afrobolivianas nos arredores de Coroico.
 

Giovanna vai a Caranavi participar de uma reunião sobre gestão de águas num projeto em que participa a Fundação Ecos Vida Bolívia e Edgar Gemio, volta de La Paz para se juntar a nós e continuarmos nosso trabalho com os Afrobolivianos daqui.
 

Voltamos à Tocana e entrevistamos Jose Luiz Delgado, o "Pulga" como é conhecido e chamado pela comunidade Afro e pelos muitos turistas estrangeiros que se acomodam em sua casa e nos quartos que aluga. Pulga é antropólogo e atualmente produz artesanato e cuida de seus turistas, é um pensador perspicaz e conhece profundamente o tema Afroboliviano. Concede a entrevista incomodado por grande número de mosquitos que nos picam sem dó.
 

Pulga

Acabada a entrevista, seguimos rápido para Mururata a poucos quilômetros dali para encontrarmos o Rei Afroboliviano Julio Pinedo e realizarmos a entrevista marcada dois dias atrás. Não queremos atrasar nenhum minuto, pois dizem as más línguas que o Rei é muito rigoroso no trato com terceiros e não toleraria nenhum atraso.
 

Mururata

Mururata

Chegamos em Mururata antes da hora marcada e vemos que a casa e a venda do Rei estão trancadas a cadeado. Esperamos passeando pela pequena comunidade e na hora combinada vamos a casa do Rei e perguntamos por ele aos vizinhos, depois de um tempo conseguimos localizá-lo. Ele nos atende constrangido, está fazendo massa de pão junto com a esposa e alega que tem muito trabalho, são 2 arrobas de massa de pão e deve leva levar cerca de 4 horas para que esteja pronta para assar.
 

 Rei Afroboliviano Julio Pinedo

Ficamos desconcertados, pois marcamos com antecedência. Com sua autorização, ele resolve a questão remarcando a entrevista para daqui a 6 meses, isso mesmo, 6 meses! Tentamos argumentar e marcar para o próximo dia onde ele estará com a comunidade num mutirão para colher folhas de coca, mingas como eles dizem aqui. Mas ele rebate dizendo que sua coroa original está em La Paz, a nova que mandou fazer não ficou boa, a capa tem alguns problemas, a roça de coca é longe e assim por diante. Seis meses seria um bom tempo e assim ficamos todos constrangidos no meio da deserta Mururata. Proponho voltar em agosto, e depois de pensar, ele aceita a proposta. Nos despedimos rapidamente e ele volta ao trabalho e nós à Tocana para entrevistar o Manoel Barra.
 

Estamos frustrados, mas não vamos perder tempo, subimos até a isolada casa do Manoel Barra, um senhor de 95 anos, quase cego, que vive só com a mulher que trabalha por ele. Ele nos conta sobre o passado dos Afro na região tamborilando um tambor improvisado, faz voz de falsete e canta as músicas de outrora, encanta a todos nós.

 Manoel Barra

Maclovia Barra

Manoel Barra

Retornamos a Vila de Tocana e ao final do dia observamos o movimento das pessoas voltando das plantações de coca, assim vamos conhecendo um e outro.
 

Encontramos as pesquisadoras Argentinas arrasadas, pois na reunião com a comunidade para a finalização de seu projeto, foram impedidas de participar e parte da comunidade negou a autorização para a coleta das amostras de DNA. Elas conversaram com várias pessoas, inclusive com Edgar e seu pai Vicente, os quais fizemos questão de apresentar e propor sua ajuda para resolver este impasse.
 

As comunidades por aqui decidem tudo em reuniões com a participação de todos, democracia total, sem chance de trilhar outro caminho. Observamos como será árduo nosso trabalho de documentação futura, se a comunidade não quiser ser fotografada ou documentada, assim será.
 

Voltamos a Coroico já de noite e depois de comer alguma coisa pela apertada e confusa Coroico, seguimos para o Hotel La Finca onde temos parceria e é nosso porto seguro.

Hotel La Finca

Hotel La Finca

Hotel La Finca

Texto e fotos: Mario Friedlander

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