quarta-feira, 23 de março de 2011

Diário de Bordo - 19 de março de 2011

Hoje no Brasil é dia de São José e aniversário de Vila Bela da Santíssima Trindade, o destino de nossa próxima expedição.
 

Por aqui na Bolívia, acordamos bem cedo depois de dormir mal,  preocupados, pois choveu a noite inteira e hoje finalizaremos a etapa dos Yungas saindo a La Paz pela famosa e temida "Estrada da Morte" ou "Carretera de la Muerte", como dizem por aqui.
 

A chuva torna a estrada, considerada a mais perigosa e mortal do mundo, como um lugar a ser evitado. Pensamos em abortar nossa travessia, ainda mais que iremos na contra mão de qualquer possível movimento. Subiremos a serra, coisa que ninguém mais faz por aqui desde que construíram a nova estrada de asfalto. No máximo, as empresas de turismo de La Paz que trazem grupos de estrangeiros para descerem de bicicletas a estrada da morte numa aventura inesquecível e aparentemente muito lucrativa, pelo menos é o que imaginamos pelo movimento de bikers que encontramos, as quais muito bem equipadas com todos os acessórios de segurança necessários a descida.
 

 Bikers na Estrada da Morte 

 Bikers na Estrada da Morte


Mas voltando a esta manhã de sábado chuvosa e encoberta com uma super Lua Cheia, a maior das últimas duas décadas, nos despedimos do Hotel La Finca onde fomos tratados como irmãos em viagem. Chegamos a Coroico, onde o caos era maior ainda, mas desta vez era o movimento da feira geral que ocupava o centro que entupia a rua de indígenas e Afrobolivianos com todo tipo de mercadorias, principalmente frutos, legumes e enormes sacos coloridos cheios de folhas de coca secas que eram despachados em vans e caminhões para La Paz.
 

 Feira em Coroico

 Feira em Coroico

 Luca Spinoza

 Transporte de Coca

Ficamos fascinados pela confusão e abundância de alimentos e etnias, pudemos então ter uma dimensão um pouco maior da mistura dos Afrobolivianos com a população local, fato que não observamos em nenhuma parte fora dos Yungas. Aproveitamos a ocasião e produzimos boas fotos e contatos com os Afro. Em agosto deveremos voltar aos Yungas e tentar estreitar os tênues laços de amizade criados nesta viagem.

 Afrobolivianos en Coroico

 Afrobolivianos en Coroico

 Afrobolivianos en Coroico

 Afrobolivianos en Coroico

 Afrobolivianos en Coroico

Com a melhora do tempo, resolvemos arriscar e enfrentar a estrada da morte que começa bem próximo de Coroico, a partir de uma vila de poucas casas chamada Yolosa.
 

A paisagem em volta da estrada começa a ficar mais natural, subidas e descidas se alternam, e aos poucos cachoeiras começam a aparecer caindo na estrada ou ao lado dela. Fazemos o percurso em baixa velocidade e a cada quilômetro ficamos mais felizes com o que vemos.
 

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

Estrada da Morte

As montanhas ficam mais abruptas e cobertas de florestas luxuriantes, flores e borboletas em cada canto e cachoeiras, muitas cachoeiras, um exagero de cachoeiras lavam a estrada e nosso carro que a percorre.
 

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

Estrada da Morte

Aos poucos cruzamos com grupos entusiasmados de estrangeiros, que bem organizados, descem a estrada da morte em direção a Yolosa. Como fazemos o percurso inverso, ficamos muito atentos para não colidirmos com os bikers ou as vans das agências que dão apoio aos mesmos.
 

 Bikers na Estrada da Morte 

 Bikers na Estrada da Morte

 Bikers na Estrada da Morte

 Bikers na Estrada da Morte

Nem acredito que a estrada da morte é tão linda assim, é a paisagem natural mais deslumbrante que encontramos até agora e a mais preservada. Eu a chamaria de estrada dos sonhos, mas devido as curvas estreitas e fechadas, e os muitos desmoronamentos nos abismos, além das dezenas de cruzes em homenagem aos mortos em acidentes nos confirmam o nome real da estrada. Luca nos conta que ela foi aberta em grande parte por prisioneiros paraguaios da Guerra do Chaco entre Bolívia e Paraguai, e que muitos morreram nos trabalhos forçados para a abertura da estrada nas montanhas e que outros tantos ao final da empreitada, eram fuzilados ou jogados dos abismos mais altos.
 
 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

Quando já subimos bastante e estamos plenos de realização pela subida da estrada, encontramos uma área repleta de grandes cachoeiras que caem sobre o leito da estrada. Numa cena quase irreal, são as Cascadas de San Juan, extasiados, tratamos de armar um bivaque junto ao memorial a alguns turistas israelenses que morreram por aqui. Fazemos nosso almoço improvisado enquanto ligo meu notebook para descarregar as imagens e liberar meus cartões de memória que estão cheios.
 

 Estrada da Morte

Visitamos um pouco mais a frente um acampamento de trabalhadores que constroen mirante para as cascatas e eles nos contam que acabaram de liberar a estrada mais a frente que estava bloqueada por uma enorme árvore que impedia o caminho de carros altos como o nosso, as bicicletas e algum carro pequeno poderia passar por baixo do grosso tronco.
 

 Mirante na Estrada da Morte

 Trabalhadores e a Equipe na Estrada da Morte

 Árvore que estava obstruindo a Estrada da Morte

Continuamos a subir e encontramos a árvore caída. E cada vez mais, precipícios abruptos junto a desfiladeiros e abismos enormes, parece uma cena do filme "O Senhor dos Anéis". A chuva fina volta a cair e com ela a neblina se adensa fazendo com que aumentemos nossa velocidade. A tarde se aproxima do fim e a umidade alta aliada a forte neblina pode nos trazer um grande problema por aqui. De repente encontramos uma vila fantasma e percebemos que a estrada da morte está chegando ao final, logo encontramos a estrada de asfalto e seguimos em direção a La Paz sob forte neblina e frio. Ao subirmos um pouco mais, a neve começa a aparecer e enormes torrentes de águas descem das montanhas e caem ao lado do asfalto, vamos chegando a periferia de La Paz felizes da vida.
 

 Estrada da Morte

 Estrada da Morte

Percorremos os labirintos urbanos de La Paz até encontrarmos nosso aliado, o Hotel Palma Real que já nos esperava há uns 3 dias.
 

Assim terminamos os sete dias que passamos pelos Yungas, encontrando os Afrobolivianos e paisagens espetaculares, contudo, um pouco perigosas. Em agosto estaremos de volta.

 Yungas

Texto e fotos: Mario Friedlander

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