segunda-feira, 21 de março de 2011

Matéria publicada na Revista Sina


Paralelo 15 - Em busca dos Afrobolivianos



13 de março de 2011 - "Domingo de Tentaciones", saímos cedo de La Paz rumo a região norte dos Yungas, mais precisamente Coroico a 100 km de La Paz por uma estrada de asfalto que sobe até quase 5 mil metros de paisagens espetaculares, com grande montanhas e vales profundos, nevados, e poucas casas e vilas.

Nesta época de chuvas, despencam centenas de finas cachoeiras do alto das montanhas e toda a estrada é margeada de pequenas e vívidas flores amarelas e muito lixo jogado dos carros e ônibus, apesar disso, a exuberância da paisagem é tamanha que nosso olhar acaba deletando o lixo e as muitas linhas de energia que atravessam os vales empobrecendo um pouco o visual.

Muitas vans carregadas de turistas e bicicletas se encaminham até La Cumbre e de lá os grupos partem liderados por guias locais numa descida vertiginosa em velocidade e visual rumo a "Estrada da Morte" ou a estrada antiga que leva a Coroico.

Por volta de metade do caminho, começamos a descer muito e o clima e a vegetação começam a mudar, aos poucos a floresta começa a dominar as montanhas e o calor a perturbar nossa tranquilidade.

Estamos nos Yungas, região tropical de altitude com muita umidade e vegetação exuberante, onde o café, as laranjas e muitas outras frutas e principalmente a coca crescem como em nenhuma outra parte da Bolívia.

Paramos num mirante de onde se avista Coroico pendurada no alto de uma grande montanha coberta de floresta e de pequenas plantações e vemos a famosa "estrada da morte", hoje utilizada quase que exclusivamente por moradores locais e para atividades de turismo, principalmente para descida de bike.



Nossa equipe conta com dois parceiros de La Paz, a Giovanna Gonzales que além de arquiteta e professora, trabalha em projetos de manejo e proteção de bacias hidrográficas através da Fundação EcosVida Bolívia e o Edgar Gemio, jovem Afroboliviano, que aos 25 anos demonstra uma maturidade e articulação que nunca encontrei em lideranças pelo Brasil. Edgar é nossa senha de entrada segura nas comunidades afrobolivianas dos Yungas, ele é natural de Tocana, localizada nas proximidades de Coroico e como militante ativo do movimento afro, conhece todos os caminhos e todas as cabeças da área e de La Paz.

Chegamos a Mururata pela hora do almoço e esperamos sob um calor sufocante, quase cuiabano, o Rei Afroboliviano nos atender.
Após uma breve introdução feita pelo Edgar, o Rei e sua esposa nos recebem respeitosamente e conhecem detalhes de nosso projeto, aos poucos vamos estabelecendo um contato mais informal e confiante e após fazermos algumas fotos, marcamos outro dia para realizarmos uma entrevista e produzirmos a foto oficial do único Rei da América Latina.

Saímos em direção a outra comunidade Afroboliviana e paramos em Yarisa onde o pessoal de Chuchipja dança a Saya Afroboliviana, uma dança que atualmente define a identidade dos Afro na Bolívia.

Encontramos muitas pessoas que contatamos em Oruro e que não levaram a sério nosso compromisso de chegar a suas comunidades, isso tornou a recepção mais calorosa e informal e pudemos acompanhar parte da festa do "Domingo de Tentaciones" ou seja, o encerramento oficial de Carnaval em toda a Bolívia.


Apesar da chuva que caiu forte e causou muita preocupação em relação ao estado das precárias e perigosas estradas nos Yungas, nosso domingo foi muito produtivo e o contato com estas comunidades foi muito amistoso.

Em função das chuvas, tivemos que sair logo e ir finalmente a Coroico, uma cidade de médio porte, considerada o primeiro município turístico da Bolívia.

Percorremos as apertadas e escarpadas estradas até nos alojarmos no Hotel La Finca, situado a 7 km da cidade e que será nossa base nesta viagem.

Assim terminou nosso 17º dia de jornada pela Bolívia em busca dos Afrobolivianos.

Publicada: Seg, 21 de Março de 2011 16:13

Texto e Fotos: Mário Friedlander
Fonte: http://www.revistasina.com.br/portal/cultura/item/214-13-de-mar%C3%A7o-de-2011-em-busca-dos-afrobolivianos

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