terça-feira, 8 de março de 2011

Diário de Bordo - 7 de março de 2011

Segunda-feira de Carnaval, acordamos cedo para organizar as coisas do projeto, e saímos antes das nove para assistir a Missa da Virgen del Socavon e ver como ia ser o final do carnaval de Oruro. Chegamos à Igreja e vimos uma intensa movimentação de fiéis fazendo preparativos e ambulantes montando barracas no grande pátio em frente a igreja, todos os tipos de comida e bebidas estavam sendo oferecidos nestas barracas, inclusive muita cerveja, que segundo um dos organizadores da festa, não era para ser servida, nem vendida, nem consumida.
 

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Visitamos um mirante construído recentemente ao lado da igreja, de onde se avista toda a cidade e se visita um grande cruzeiro e uma imagem da santa no alto do mirante, de lá pudemos perceber que o final do carnaval seria agitado, muita gente estava se encaminhando a igreja e diversos grupos de músicos e dançarinos também, quando descemos do mirante o pátio fervilhava de gente, bandas e figuras com máscaras fantásticas, os ambulantes ofereciam além de muitas comidas tradicionais, objetos religiosos, artefatos para xamanismo, plantas medicinais, publicações sobre o carnaval de Oruro e muchas cositas mas.
 

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

De repente o padre abre a porta principal da igreja e o burburinho começa, todos os líderes dos grupos culturais que se apresentaram no carnaval, levando as imagens de seus santos padroeiros e muitos dançarinos e dançarinas com suas fantasias e máscaras de diabo, todos correm até o padre em busca da benção com água benta, no meio do burburinho uma das bandas começa a tocar com força, quando vai terminando a música, outra banda começa a sua a assim por diante.
 

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Igreja del Socavon

Imersos em música de carnaval boliviana o pátio da igreja ferve de gente se movendo em todas as direções, com todas as intenções, as bandas que já tocaram se reúnem embaixo de lonas coloridas para tomar cerveja e confraternizar, muita gente corre para o interior da igreja onde começou a missa principal, as crianças duelam com sprays de espuma e buscam os brinquedos de um parquinho espalhado pelo pátio, famílias fazem oferendas de fogos, cervejas e ervas em frente a escadaria da igreja, todos se abraçam, sorriem, tiram fotos entre si, o ambiente é super cordial e pacífico, o carnaval é uma celebração alegre da vida.

Igreja del Socavon

 
Hélio Caldas, Igreja del Socavon

Segunda de Carnaval, Igreja del Socavon

Segunda de Carnaval, Igreja del Socavon

Enquanto tudo isso vai acontecendo, circulamos como loucos pela multidão sem fim e tento entender afinal de contas sobre o que está acontecendo de fato.
 

Abaixo de nós, num outro pátio maior que é chamado de Avenida Cívica, as arquibancadas de tábuas, altas e numeradas a cada meio metro, estão cheias de gente que pagou para sentar ali, muita gente se pendura onde pode aproveitando os desníveis enormes das ruas, e no pátio, muitos grupos se revezam em novas apresentações ou demonstrações como são chamadas pelo pessoal da festa.
 

Segunda de Carnaval, Igreja del Socavon

Segunda de Carnaval, Igreja del Socavon

O carnaval que eu achava que ia acabar, se agiganta mais ainda, todos participam com entusiasmo e então fico sabendo que hoje é um dia para celebrar com muita bebida e festa o final das apresentações solenes dos 48 grupos culturais que participaram do Carnaval de Oruro neste ano.
 

Mas a partir de amanhã e durante toda a semana os grupos de Oruro irão iniciar uma disputa acirrada para ver quem dança mais, cada grupo se reunirá em diversos locais especiais da cidade e de suas comunidades e lá ficarão dançando por dois, três ou quatro dias, sem parar, o grupo que conseguir ficar mais tempo bailando e bebendo ganha a disputa.
 

A chuva fina, mais uma vez interrompe meu trabalho de documentação e corro para fugir da chuva e daquela intensidade inesperada de celebração que me encanta e perturba. Pelas ruas cheias de gente e lixo, a celebração continua ininterrupta em todos os movimentos, gestos e ações, a chuva é só mais um elemento do todo, ela não interrompe nada, só provoca rearranjos e mais movimentação ainda.
 

Estou pensando em voltar ano que vem, agora estou começando a entender um pouco do que acontece por aqui e confesso que gostei muito do muito pouco que vi.
 

Quero mais e melhor, Oruro agora faz parte de minha vida, amanhã iremos a La Paz e sei que o turbilhão de acontecimentos irá continuar, pois que venha o amanhã.

Texto e fotos: Mario Friedlander

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