terça-feira, 10 de maio de 2011

A Festança de Vila Bela - 2ª parte

Dona Mância emocionada, ouve a indicação dos novos festeiros feita pela Presidente da Irmandade do Divino, Dona Nemézia

A Festança é celebrada em toda a cidade de Vila Bela. O núcleo das atividades é a Igreja Matriz, para onde os festeiros e as procissões afluem, se concentram e dali saem em cortejos pelas ruas. A praça em volta da igreja, com seu pátio frontal, também concentra inúmeras atividades, como o encontro para as alvoradas festivas, o levantamento dos mastros, a queima de fogos, o badalar dos sinos, a apresentação do Chorado e do Congo, a concentração de festeiros e autoridades.

O Chorado na Festança

O Centro Comunitário abriga a cozinha onde a atividade é intensa e quase ininterrupta durante toda a Festança, pois além de proporcionar sete refeições fartas e gratuitas para toda a comunidade residente e para os visitantes, ainda sedia os ensaios do Congo e pelo menos três bailes oficiais.

A Rainha de São Benedito, Dona Jonas, mostra os biscoitos de ramos, ao fundo a carne seca e a linguiça para a festa

O levantamento dos mastros de São Benedito e do Senhor Divino com suas respectivas bandeiras é feito sempre no pátio frontal da Igreja junto à praça, ficando cada mastro numa lateral do pátio.

Próximo aos mastros são construídas duas arquibancadas de madeira para o público assistir a apresentação da Dança do Chorado e do Congo.

Nos três últimos anos tem sido instalado um grande palco para a apresentação de shows musicais. O palco fica na esquina da rua Pouso Alegre com a rua Travessa do Palácio, atrapalhando e quase impedindo os deslocamentos dos cortejos religiosos e do grupo do Congo.

Vista aérea da praça principal e a Igreja Matriz. No pátio frontal da Igreja ocorre a apresentação do Chorado e do Congo, assim como o levantamento dos mastros. Embaixo à direita, na esquina da rua. Pouso Alegre com a rua Travessa do Palácio, o palco para a realização de shows musicais.

Mutirão para fazer biscoitos da festa

Normalmente a Festança se inicia na penúltima semana de julho. Seguem as datas oficiais das seis últimas Festanças da Vila Bela:
18 a 27 de julho de 1997
15 a 26 de julho de 1998
18 a 27 de julho de 1999
19 a 30 de julho de 2000
18 a 29 de julho de 2001
17 a 28 de julho de 2002
  

CRONOLOGIA
Data: 1752 a 1835
Descrição: Festas religiosas oficiais dos portugueses e festas de santos diversos em suas próprias datas.
Manifestações religiosas e profanas dos escravos associados às festas oficiais de santos.

Data: 1836 a 1982
Descrição: Surgimento e consolidação da Festança, com data móvel entre meados de Setembro e meados de Outubro.

Data: 1983 a 2001
Descrição: Festança ocorrendo com início na penúltima semana de Julho.

Dona Cecília Aranha de Almeida (In memoriam).
Foi Capelona, Juíza e Rainha de São Benedito


CAPITAL E INSTALAÇÕES
Os recursos para realização da Festança são provenientes de várias fontes: as Irmandades / a Paróquia / os festeiros / a Prefeitura Municipal / o Estado através de projetos viabilizados pela Lei Estadual de Incentivo a Cultura e a Comunidade local, onde se inserem alguns devotos, comerciantes, fazendeiros e empresários que eventualmente colaboram.

Veículos / combustível / enfeites Igreja / enfeites Centro Comunitário / fogos de artifício / alimentos diversos / lenha / apetrechos de cozinha / tecidos para vestuário do Congo / tecidos para vestuário do Chorado / tecidos para o vestuário dos Foliões / tecidos para o vestuário do Coral / instrumentos musicais / shows musicais / bailes / produção de cartazes e folhetos.

As instalações utilizadas são a Igreja Matriz / a praça central / o Centro Comunitário / as casas dos festeiros e as sedes da Associação dos Funcionários do INCRA e da Associação dos Servidores da Prefeitura Municipal.

 Dona Andreza (In memoriam)

COMIDAS E BEBIDAS
• Café-da-manhã: também chamado de quebra-torto, é a refeição matinal reforçada servida aos dançantes do Congo pelos festeiros de São Benedito e aos devotos participantes das Alvoradas Dançantes, que normalmente terminam ao amanhecer nas casas dos festeiros. Aos participantes da Folia do Divino, nestas ocasiões, são servidos principalmente sopão de carne com legumes ou caldo de mocotó, café, chás diversos, biscoitos e aluá.

• Almoço e jantar: com cardápio diversificado, variando de acordo com a orientação e condição financeira do Festeiro. Alguns itens mais comuns são: arroz carreteiro ou Maria Izabel / saladas diversas / arroz com linguiça / feijão com couro de porco / feijoada / caldo de mocotó / massaco (banana verde cozida, torresmo e banha de porco socada no pilão) / farofa de banana ou de carne / mandioca cozida ou assada / churrasco de carne / paçoca de carne / refrigerante / cerveja / água.

Aspecto da preparação de biscoito de ramos.

• Bezéques: são diversas guloseimas simples, oferecidas como lanche pelos festeiros, após a realização das rezas cantadas, das visitas da Esmola do Divino ou, quando da recepção do cortejo com os festeiros em visitas às casas. Os bezéques mais comuns são: bolachinhas africanas / aluá (refresco de milho fofo torrado) / chicha (refresco fermentado de milho fofo torrado) / bolo de arroz / biscoito de ramos / kanjinjin / licores diversos (folhas de figo / folhas de lima / pequi / laranja / genipapo / etc.) / licor de leite ou leite de onça / refrigerantes.

Distribuição de bolo de arroz e chicha na casa do festeiro, depois da reza.

Outros itens eventuais dos bezéques são: biscoito francisquito / bolo amarra-marido / mané-pelado / biscoito de sinhá / bodó / pipoca / amendoim torrado / pé-de-moleque / bolo de milho / chás diversos / chocolatada de amendoim.

 Mutirão de biscoitinhos para a Festa de São Benedito

Grande parte dos Católicos praticantes na cidade e arredores participam de toda a Festança, os vilabelenses que vivem em outras cidades, assim como seus descendentes e parentes veem em massa para participar dos rituais e principalmente da grande confraternização que se instala na cidade.

Dona Jonas e Seo Geraldinho, Rainha e Rei de São Benedito

A presença de visitantes sem nenhum vínculo de parentesco tem aumentado muito, são pessoas que poderiam ser classificadas como turistas em busca de atrativos culturais e visitantes das proximidades em busca da efervescência da Festança.

A maioria dos visitantes que têm vínculos de parentesco na Vila Bela são provenientes de Cuiabá, Cáceres, Pontes e Lacerda, Guajará-mirim/RO e Porto Velho/RO.

Os visitantes sem vínculos de parentesco provem em sua maioria de Pontes e Lacerda; Cuiabá e Cáceres.

A participação dos vilabelenses e seus parentes que vivem fora, incluído o povo de Rondônia, é notória, eles são eleitos festeiros, participam da organização e execução das festas, divertem-se o tempo todo, buscam recuperar o tempo passado longe da terra natal, de seus familiares e amigos.

A moçada se diverte no Rio Guaporé em frente a Praia Morena

Os turistas culturais participam como assistência e acabam se envolvendo no fervor da Festança, principalmente em relação ao Congo. Os visitantes das proximidades buscam mais a diversão junto à praia no rio Guaporé, os banhos de cachoeira na Serra Ricardo Franco, as paqueras na praça, nos bailes e nas danceterias, assim como a participação nos shows musicais que estão sendo apresentados na praça durante a noite.

 Imperatriz e Imperador do Divino Espírito Santo

Texto e fotos: Mario Friedlander

Fonte:
A Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade - Mato Grosso

Mario Friedlander
Inventário Nacional de Referências Culturais
IPHAN
Ministério da Cultura
Cuiabá, Dezembro de 2001

Um comentário:

  1. Tudo muito lindo. Como é Vila Bela,bela vila, as pessoas,e suas manifestações culturais.
    Parabéns e também pelas belissimas fotografias.
    Marilia

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